Misturar, descombinar, ousar. Está difícil
andar na moda, mas ainda bem que Gloria
Kalil veio aqui para ajudar. E tem para todas:
das mais clássicas às dispostas a arriscar
Basta correr o olhos pelas vitrines mais caprichadas ou ler qualquer reportagem sobre moda e as instruções estão todas lá: não use nada que saia prontinho da loja, misture um grande e variado número de peças, quebre a uniformidade do visual com acessórios ousados, nem pensar em combinar sapato com bolsa. Aliás, nem pensar em combinar nada com coisa alguma. Dá até saudade do tempo do terninho, do preto total e outros recursos simples para facilitar o confronto diário com o guarda-roupa... Pensando melhor, não dá saudade, não. O visual do momento é mais trabalhoso, mas exige mais da imaginação. Para desvendar alguns de seus truques, a consultora de moda Gloria Kalil ("Liberte-se do conjuntinho", conclama ela no artigo da última página desta revista) associou-se ao stylist Daniel Ueda num exercício de estilo. Primeiro, escolheram peças-chave dos desfiles de inverno, como a bermuda, a saia rodada ou o casaco curto e justo. Depois, cada uma dessas peças foi "traduzida" para dois tipos de personalidade: a mulher de gosto mais clássico, mas sem nada de conservadora (a modelo de cabelos lisos, claro), e a mais ousada, quase radical, disposta a empurrar um pouco os limites.
"Nada mais moderno e criativo do que misturar tudo com quase tudo e recusar os visuais muito certinhos, muito combinados", diz Gloria. Ela adverte, porém, que o estilo "agite e use" não cai pronto do céu nem significa que o velho clichê – "hoje em dia cada um usa o que quiser e pronto" – tenha virado realidade: "É um enorme engano achar que a moda entrou no reino do vale-tudo. Não vale. Cada grupo, cada tribo, tem seus parâmetros estéticos que distinguem com muita clareza os malvestidos dos bem-vestidos". Quem se dispõe a aprimorar o próprio estilo vai entrar num jogo divertido e democrático, mas cheio de perigos, pois não tem regras claras, nem manual. Para entrar nele é preciso ter "cabeça aberta, olho vivo e muita informação", recomenda Gloria. Os visuais mostrados nestas páginas são um convite, justamente, a que se abra a cabeça e se agucem os olhos.
ESPIÃS MODERNAS
Saltando dos filmes de espionagem para as passarelas, o trench coat ganhou vida nova – estampas e babadinhos também. Para a mulher de estilo mais clássico, complementam-no calça ajustada, sapato cheio de personalidade e echarpe não convencional. Para a arrojada, uma estampa só é bobagem: as flores do desenho vão descombinar cuidadosamente com as do bordado da saia, com o grafismo da camiseta e as listras da blusa.
FESTA NA SAVANA
Bermuda com estampa de onça exige, para a clássica, ser domada com muita disciplina: trench de gabardine cáqui, meias pretas e sapatos sem salto algum. A fashionista, ao contrário, dobra a temperatura e parte para o exagero: túnica com animal diferente (girafas) e o paletozinho mais curto, no xadrez mais escandalosamente colorido e mais rigorosamente urbano – para se contrapor ao clima selvagem do resto.
A saia não pode ser mais difícil: rodada e ainda por cima com fitas no sentido horizontal. A clássica fica na zona de segurança com complementos escuros e botas baixas – mas tudo com uma evocação folclórica, alpina, uma simpática tendência do momento. A saia centraliza as atenções. Na contramão, a ousada põe mais colorido e estampa na fórmula, criando múltiplos focos de atenção. Nem a sandália plataforma escapa.
PONTO, CONTRAPONTO
Cheio de babados e ultrafeminino, o paletó que lembra uma pelerine desfilou na passarela com minivestido de pois nos mesmos tons. Para não passar por patricinha, a garota esperta apela para o contraponto da irreverência: short jeans, camiseta grafitada, chapéu, gravatinha e inacreditáveis sapatos abotinados. Na versão mais serena, a fluidez é quebrada por um toque masculino nas calças retas e na camiseta lisa por baixo – tudo simples e sofisticado.
QUASE CERTINHAS
Curto e justo é o diktat universal para o paletó deste inverno. O modelo da foto ainda tem uns babadinhos atrevidos atrás. Fica graciosamente comportado com calça abaixo dos joelhos, camiseta, colete e sapatos baixos (com soquetes escuras, para sair um pouco da linha). Os broches ainda têm fôlego para mais uma estação. Com vestido de bolinhas, a arrojada quase parece uma garota boazinha. Salvam-na as botas caubói: quem quer ser moderna deve usá-las com tudo nesse inverno, inclusive micros e shorts. Menos por cima da calça.
ESPORTE FINO
O correto seria usar um vestido sofisticado como este à noite, tal como foi mostrado no desfile. Mas, no dicionário da moda contemporânea, o correto tem de ser desafiado, quebrado, corrompido. Nos nossos dois exemplos, entraram elementos esportivos para cumprir esse papel, acoplados a peças com cara de roupa de brechó. O colete, sob casaco com capuz, no caso do estilo mais clássico. Ou o cardigã, que migrou da cadeira de balanço das vovós de antigamente para dar um ar de modernidade saída diretamente das ruas. Com essas botinhas, a usuária jamai s será chamada de vovozinha.
2 comentários:
MUITO INTERESSANTE ESSA MATÉRIA...JEANS NUNCA SAI DE MODA...ADORO JEANS!!!
FONTE: http://veja.abril.com.br/especiais/estilo_2005/p_050.html
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